quarta-feira, agosto 13 1 FAÇA UM COMENTÁRIO

Escada para o céu



Noite passada, sonhei com uma escada que tocava o céu. Eu tentei subir, eu tentei tocar o céu. Mas cada degrau que eu passava parecia ser ainda o primeiro. E eu fazia força, fechava os olhos. Mas lá estava eu ainda estática no mesmo degrau.

Confesso. Pensei em desistir. O céu era muito longe e alcançá-lo era dom de divindades. Foi quando eu escutei uma voz rouca de latim meio vago que dizia “Força, você consegue. Eu sou a lei.”

Procurei aquela voz misteriosa ao meu redor. E eu só conseguia ver branco e azul. Não havia nada. Não havia ninguém. Não havia chão. Apenas o céu e a escada. Eu tinha que subir. Aonde eu iria se não subisse? Olhei para cima e vi degraus sob degraus. Pensei comigo “Meu Deus, podes me ouvir?”

Parei por um instante e olhei para o degrau sobre meus pés. Ele brilhava e lá estava eu no reflexo, também a brilhar. Mas custei a perceber que era eu quem brilhava tanto. Um brilho que parecia vir do futuro anunciando o sucesso da vida.

Passei a acreditar mais em mim. E subi a escada. E toquei o céu.
quarta-feira, agosto 6 3 FAÇA UM COMENTÁRIO

O sono


Como é sublime o sono. Dormir deveria ser uma arte. E sonhar, uma realeza. Acordar é a renovação para mais uma jornada e dormir é o mergulho para o mundo paralelo. O mundo dos sonhos onde nada parece ter sentido e do qual se é difícil lembrar.

Mas com certeza em algum momento desse paralelismo nos lembramos de coisas tão boas que tempo nenhum consegue apagar da nossa memória ao passo que vemos coisas tão banais que esquecemos assim que acordamos.

Ah! Como é bom sonhar com pessoas que não vemos há tempos! A saudade, naquele momento, a um súbito cessa e a alegria dá o rumo a esse mundo. E então ao acordamos pegamos o telefone e ligamos para elas, nem que seja apenas para ouvir as suas vozes. Quando sonhamos com um grande amigo, a satisfação é tão grande que logo no encontro seguinte dizemos a ele que esteve em nossos sonhos.

Sonhar é tão bom que quando despertamos dele pedimos a Deus um pouco mais de sono para que o sonho continue a reinar. E quanto aos pesadelos, a sua existência se deve ao colapso da física quântica: todo bem gera um mal, e todo mal gera um bem. Mas se pararmos bem para pensar, os pesadelos só vêm se nós tornarmos nossas vidas perturbadas.

E assim a grande infelicidade humana surge...Deixamos o ser e nos tornamos uma máquina de resolver problemas intermináveis num círculo vicioso que destrói os dois universos da humanidade.
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O livro



Ah, o livro... Livro horrendo!Livro culpado!Livro cupido! A esse livro minha leitura se dividia entre o prazer de saborear cada palavra sublime e a ânsia de passar logo para próxima página. Ou apenas parar a leitura para minha face descansar sobre as folhas e delas o teu cheiro arrancar...

Lembras-te daqueles tomos que me emprestaste? Foram eles, foram eles. E eu que sempre te via como uma pessoa superior e intocável agora eu vejo como homem. E eu que me via uma modesta garotinha, fito-me no espelho e o que vejo é uma mulher.

Mas o livro... O livro... Perturbou-me profundamente. Não sabia eu se te cheirava ou se lia, ou se entendia, ou se me desfrutava dos encantos de Drummond... Mas nem Drummond conseguiu despregar-me do teu perfume. E o que era livro virou travesseiro. E do travesseiro a lembrança e da lembrança a paixão. E da paixão as dúvidas: Tu ou o perfume? O perfume ou tua lembrança nele? Ou seria apenas o gozo de reconhecer que é teu perfume que penetra nas minhas narinas por todas essas noites de silenciosa literatura?

E o livro, e o perfume, e o silêncio. A trinca perfeita do Poker literário, o xeque-mate do meu xadrez, a tua conquista do meu mundo. E tudo por causa de um livro... Foi ele, foi ele...
 
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