segunda-feira, janeiro 18 2 FAÇA UM COMENTÁRIO

O novo

Há quem dê valor a um velho sábio. Suas pupilas transcendem um olhar de quem observou por décadas um tic-tac que a cada dia parece diminuir a intensidade. Infelizmente, há coisas que a sabedoria e a experiência não conseguem ver. As lembranças de um vívido passado distorcem e ofuscam o que é novo. Usar a experiência em vez da vontade, a esperteza em vez do impulso, a previsão em vez da aposta. É um dilema, principalmente para um jovem ouvinte de conselhos. Nem sempre é bom considerá-los. Onde se perdeu a naturalidade de encarar o Novo?
terça-feira, janeiro 12 0 FAÇA UM COMENTÁRIO

Loucura é liberdade


"Coragem, vamos! Dissimular, enganar, fingir, fechar os olhos aos defeitos dos amigos, ao ponto de apreciar e admirar grandes vícios como grandes virtudes, não será, acaso, avizinhar-se da loucura? Beijar, num transporte, uma mancha da amiga, ou sentir com prazer o fedor do seu nariz, e pretender um pai que o filho zarolho tenha dois olhos de Vênus*, não será isso uma verdadeira loucura? Bradem, pois, quando quiserem ser uma grande loucura, e acrescentarei que essa loucura é a única que cria e conserva a amizade. Falo aqui unicamente dos homens, dos quais não há um só que tenha nascido sem defeitos, e admitindo que, para nós, o homem melhor seja o que tem menores vícios. É por isso que os sábios, pretendendo divinizar-se com sua filosofia, ou não contraem nenhuma amizade ou tornam a sua uma ligação áspera e desagradável. Além disso, só costumam gostar sinceramente de raríssimas pessoas, de forma que nenhum escrúpulo me impede de asseverar que não gostam absolutamente de ninguém, pela razão que vou apresentar. Quase todos os homens são loucos; mas, porque quase todos? Não há quem não faça suas loucuras e, a esse respeito, por conseguinte, todos se assemelham; ora, a semelhança é justamente o principal fundamento de toda estreita amizade."

Erasmo de Rotterdam - Elogio da Loucura



*Costumava-se pintar Vênus com os olhos um pouco estrábicos, para despertar o amor e o desejo, e porque o estrabismo de certas mulheres não passa de pura afetação.
 
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