Quando uma pessoa muito querida completa sessenta anos, sempre interpretamos como uma vitória. É a heroína que superou as manhas da infância, a rebeldia da adolescência e a soberba da fase adulta. Mas depois paramos para pensar que esta pessoa está mais perto do adeus.
Começamos a nos arrepender. Arrependemos de todas as coisas que devíamos ter feito juntos e não fizemos. Das coisas que fizemos e não devíamos ter feito, de um abraço não dado, de um parabéns não conquistado, de uma ligação inoportuna, de um erro não perdoado, de uma discussão boba, de uma palavra errada, de uma teimosia ou ingênua concordância. De um almoço não dado, um jantar conturbado, de não saber como dizer eu te amo.
E o pior de tudo é que, mesmo após tanto tempo de convivência, não sabemos nem por onde começar a aproveitar o pouco tempo que ainda nos resta. Uma mudança repentina de comportamento poderia ser vista como interesse na herança ou algo do tipo. A gente pode perceber pela malícia nos olhos das pessoas ou nos cochichos indiscretos. Depois bate uma angústia no peito como um redemoinho que te suga até o centro da alma, uma tristeza sem palavras e sem ação. Apelamos a Deus para que Ele nos dê os seus braços que nos acolhem à sombra de um solitário quarto inundado de lágrimas.
Então a pessoa parte para aquele lugar que ninguém pode trazê-la de volta. E procuramos as boas lembranças para nos confortar sem encontrar muita coisa. Um sorriso ou outro talvez. E nunca conseguimos superar a dor, pois sempre que nos lembramos da pessoa querida, sentiremos remorso pelos nossos arrependimentos. E nunca encontraremos ninguém para substituí-la.
Se prevenir é melhor do que remediar, não posso dizer. Mas tenho a certeza de que aproveitar a vida e sonhar é melhor do que não acreditar nela e deixar tudo o que vale a pena se entregar passar despercebido. Oportunidades são poucas. Não esperemos pela mais fácil, mas pela qual nos sentimos mais leves e felizes. Não queira provar do amargo gosto da covardia
Estava preparando-me para dormir quando pendurou-se-me uma idéia no trapézio de meu cérebro, começou a dar cambalhotas e despertou esta louca vontade de escrever. Escrever com ousadia. Pois na forma mais sensata de mundo, o verbo que jamais se deveria conjugar no imperativo é o verbo amar. Aprendi com o velho Brás que o amor da glória era coisa mais verdadeiramente humana que há no homem, a sua mais genuína perfeição.
Mas ame mesmo, ame muito, ame sem medo e sem vergonha! Quem disse que existe amor proibido? Amem-se o médico e paciente, o patrão e empregada, o professor e a aluna. Amem-se os heteros, homos e bi. Com bis. Amem-se o velho e o moço, o Pierrot e a colombina, a bela e a fera, o King Kong. Amem-se a rica e o pobre, a negra e o branco, América e Europa, Iraque e Estados Unidos, Brasil e Argentina. Marília e Dirceu, Brás e Virgília, Miranda e Estela. Amem-se Bentinho, Escobar e Capitu. Amem-se Maria Paula, Ferraço, Juvenaldo ou Adalberto, Marcelo e Gyselle Pelé e Maradona, Romário e Edmundo. Amem-se Piauí Pop e micarina, Record e Globo, Pepsi e Coca-cola, Adidas, Bandidas e Nike . Ame seus amigos e até os inimigos. Ame seu país, seus pais e filhos. Ame Deus, Jesus e Maria. Ame-se.
Pois o amor não tem idade nem profissão. Não tem lugar nem hora. Não é concreto e nem abstrato. Não é vidro, plástico ou papel. Não é ruim, nem péssimo, nem horrível. Não é mais ou menos. O amor é sublime, é lindo, é fervoroso, é esplêndido, é cordial, é louvável, é inquestionável, é de graça e transferível, é insano e saudável, é claro e enigmático, é doce, encantador e nos deixa com cara de bobos.
Mas amar é diferente. Amar é tudo isso elevado ao infinito. De que se vale o amor se não nos valermos a amar? Ame. Ame mesmo. Ame muito, agora e sempre!